domingo, 16 de outubro de 2011

As origens do tarô I

"Apesar das inúmeras pesquisas que as escolas e sociedades secretas têm realizado através dos séculos, o verdadeiro significado do tarô permanece envolto em mistério. Ainda hoje, pouco de positivo se pode afirmar sobre os primórdios do jogo,em virtude da mulitplicidade de versões existentes acerca do seu país de origem, bem como da associação primitiva entre os arcanos maiores e menores.
Segundo alguns historiadores, o tarô começou a se tornar conhecido na Europa em fins do século XIV, mas precisamente entre os anos 1370 e 1380. Esta suposição baseia-se principalmente na narrativa de Frei João, um monge suíço que, em 1377, fala de um jogo de cartas o qual, entre outras coisas, indica, pelas suas figuras, o atual estado do mundo. No entanto, como o monge descreve um baralho com 52 cartas e quatro naipes, em tudo semelhante ao jogo moderno e não ao tarô, a incerteza continua.
Existe ainda outro registro, datado de 1392, que menciona uma encomenda de três baralhos, pintados e ornamentados, ao artista Jacquemin Gringonneur, por ordem do rei Carlos VI. Por muito tempo se pensou que as 17 cartas de tarô existentes na Biblioteca Nacional de Paris fizessem parte desse baralho. Agora, contudo, os especialistas refutam essa idéia, presumindo que as cartas sejam de origem italiana, confeccionadas em 1470. Com isso, desmente-se a afirmação do padre Menestrier, feita em 1704, de que Gringonneur inventara o tarô em 1392 para distrair o rei Carlos VI durante seus ataques de loucura.
Também não é muito provável que as cartas tenham sido confeccionadas na França antes de 1369, pois um decreto francês daquela data, proibindo os jogos de azar, não faz menção às cartas comuns ou a jogos semelhantes ao tarô. Assim, pode-se deduzir que o baralho tenha mesmo aparecido na Europa entre 1370 e 1380.
De acordo com uma das versões mais plausíveis, o tarô procede do norte da Itália, do vale do rio Taro, afluente do rio Pó, do qual teria se derivado seu nome. Talvez seja mera coincidência, mas, de fato, na Itália o jogo é conhecido como tarocchi e, além disso, o baralho moderno descende do tarô veneziano ou piemontês, composto por vinte e dois arcanos, semelhante ao francês conhecido como Tarô de Marselha. Este último, que conta com 78 cartas, incluindo os 22 arcanos, tornou-se um tipo padrão, embora os desenhos, os nomes e a ordem dos arcanos tenham sido várias vezes alterados. Na Sicília do século XVII, por exemplo, a Grã-Sacerdotisa, o Diabo e o Julgamento forma substituídos por cartas mostrando um Mendigo (Povertá ou Miséria), uma figura feminina (Constância) e por outras intituladas Navio e Júpiter.
Existem escolas iniciáticas que atribuem a origem do tarô ao Egito. O livro 'As grandes iniciações segundo os arcanos menores do tarô', traduzido para o português por Martha Pécher, diz textualmente que "segundo a Tradição, quando os sacerdotes egípcios, herdeiros da sabedoria atlântida, eram ainda guardiães dos mistérios sagrados, o grande hierofante convocou ao templo todos os sábios sacerdotes do Egito para que, juntos, pudessem achar um meio de preservar da destruição os ensinamentos iniciáticos, permitindo, assim, seu uso às gerações de um futuro distante. (...)O grandioso sistema simbólico da sabedoria esotérica- o tarô- foi dado à humanidade sob a forma de um baralho de 78 cartas que, desde milhares de anos, servem para satisfazer a curiosidade humana a respeito de seu futuro ou para se distrair e matar o tempo jogando. Nessas cartas os sábios egípcios encerraram toda a sabedoria que tinham herdado, todos os conhecimentos que possuíam, toda a verdade que lhes era acessível a respeito de Deus, do universo e do homem.
Walter B. Gibson e Litzka R. Gibson, autores de Psychic Sciences, dizem que, apesar das suas origens serem desconhecidas, algumas autoridades alegam que o tarô evoluiu dos divining sticks, pauzinhos usados para as adivinhaçoes dos chineses, enquanto outros concordam com os defensores da teoria egípcia, segundo a qual teria ele sido adaptado das páginas do legendário Livro de Thoth. Para esta corrente, o tarô chegou à Europa durante o século XIV, trazido pelos ciganos que, vindos da Índia, passaram pela Pérsia onde um baralho ilustrado- conhecido pelo nome de atouts- estava em moda. Os ciganos, tentando conseguir status na Europa, falavam que sua pátria era o Pequeno Egito. Não seria, portanto, de se admirar se as cartas persas tivessem sido propositadamente atribúídas ao Egito.
Hipóteses à parte, a verdade é que os indícios sobre a existência do tarô só podem ser obtidos através das notícias surgidas ao longo do tempo, as quais estabelecem as datas e os lugares onde ficou conhecido.
Pesquisando essas antigas notícias, vemos que durante os séculos XIV ou XV havia certa discriminação quanto ao jogo de cartas, especialmente depois que Bernardino de Siena, um monge franciscando, declarou que as cartas haviam sido inventadas por Satanás. Mais tarde, tanto os padres católicos como os ministros protestantes atacaram todos os jogos de cartas, declarando que os homens se distraíam quando deveriam estar cuidando da salvação de suas alamas. Alegavam, igualmente, que o jogo induzia os homens à bebida, a usar linguagem profana e a cometer outros pecados. As artes divinatórias também eram duramente criticadas, pois sugeriam a existência de mecanismos psíquicos contrários ao dogma de que a providência divina planeja tudo o que vai ocorrer. Um frade chegou a comparar os arcanos aos degraus que conduzem aos homens ao inferno.
Na Inglaterra, as cartas eram condenadas não só pelo clero mas também por leigos d ementalidade puritana. Um desses foi John Northbrooke, que em 1570 afirmou que as cartas haviam sido criadas por Satanás para introduzir a idolatria entre os homens. Com essa declaração, ele antecipou uma teoria moderna, de acordo com a qual elas são os repositórios de uma antiga sabedoria pagã, pois os reis, os valetes e as rainhas encobrem antigas imagens de ídolos e falsos deuses. Por sua vez, o fundador da Igreja Metodista da Inglaterra, John Wesley (1703-1791), denunciou as cartas como sendo "os livros do Diabo".
Mas nem todos os homens tinham sentimentos tão negativos com relação ao tarô. Os humanistas (século XVI), por exemplo, consideravam que as lendas surgidas na Antiguidade continham verdades sublimes e que o seu cerne fora propositadamente encoberto, pois a sabedoria lá contida destinava-se unicamente aos iniciados assim sendo, reconciliaram o tarô às antigas tradições.
Esse grupo também se interessou pela astrologia e pela magia, e sues membros recomendavam o uso das imagens dos arcanos para a meditação, a fim de atrair as influências planetárias benéficas. Recomendavam ainda esse tratamento de imagens mágicas para aliviar o cansaço mental causado por estudos prolongados e intensivos. É interessante lembrar que o herege Giordano Bruno, queimado vivo por Roma em 1600, também recomendava esse tratamento. Hoje em dia, tais meditações seriam consideradas benéficas e não levariam ninguém à fogueira...
O interesse que os humanistas mostravam pela arte de memorizar e pela classificação das idéias fez surgir outra hipótese: a de que os arcanos do tarô apareceram na Renascença e que suas figuras eram usadas como artifícios mnemônicos.
O pioneiro do método mnemônico foi o filósofo espanhol Raymon Lull, morto em 1315 pelos muçulmanos qunado tentava convertê-los ao cristianismo. Lull sofrera a influência dos cabalistas judeus, que recomendavam meditar sobre as letras, suas combinações e permutações; em seus livros, usava letras e diagramas para representar as idéias e as associações entre elas, e empregava também o sistema de degraus para mostrar que o mundo está disposto numa hierarquia descendente e ascendente: Deus no ponto mais elevado e os anjos, as estrelas, os homens, os animais, as plantas, etc., em lugares inferiores. Agrupando os conhecimentos de uma forma clara e precisa ele esperava levar tanto os judeus como so muçulmanos a reconhecer as verdades inerentes ao cristianismo."
Texto retirado de uma revista planeta especial sobre tarô mais antiga (perdi a capa); texto de Elsie Dubugras.

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